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Revista de Gastroenterologia da Fugesp - ÚLCERA DUODENAL "HELICOBACTER PYLORI" E ACIDEZ GÁSTRICA
Jul/Ago-1999

ÚLCERA DUODENAL "HELICOBACTER PYLORI" E ACIDEZ GÁSTRICA


"Helicobacter pylori"
Scanning Micrograph

 

 
Gentileza Astra-Zeneca
 

A úlcera péptica gastroduodenal acompanha-se de hiperacidez gástrica

  • Realmente é assim. A hiperacidez gástrica está presente em praticamente todos os pacientes portadores de úlcera péptica duodenal.
  • Em pacientes ulcerosos duodenais, nós mesmos encontramos níveis elevados de ácido clorídrico, submetendo esses pacientes à prova da pentagastrina (a pentagastrina contém os 5 aminoácidos terminais presentes da cadeia de aminoácidos das gastrinas).
  • Reproduzimos abaixo os resultados das medidas de ácido clorídrico, expressas em miliequivalentes/hora (mEq/h) para Secreção Basal (SB) e Produção Máxima de Ácido (PMA).
Prova de Pentagastrina (6 mcg/kg)
Indivíduos Normais (n=30)
SB = 2,4
+/-
0,5 mEq/h
  PMA = 19,4
+/-
1,4 mEq/h
Ulcerosos Duodenais (n=41) SB = 5,43
+/-
3,9 mEq/h
  PMA = 31,34
+/-
6,0 mEq/h
(Laudanna A.A. - 1990)

Os níveis de ácido são nitidamente mais elevados no ulceroso duodenal em relação aos indivíduos normais, de ambos os sexos, como foram pareados no estudo (p>0,05).

CONCLUSÃO

Os ulcerosos duodenais apresentam em sua grande maioria HIPERACIDEZ

É clássico o conceito:

SEM ÁCIDO - SEM ÚLCERA PÉPTICA

ULCEROSOS DUODENAIS E "HELICOBACTER PYLORI"

O "Helicobacter pylori" (figura), bactéria Gram negativa, cuja reconhecida patogenicidade foi assentada por Warren J.R e Marshall B. em 1983, está presente na mucosa gástrica de mais de 90% dos ulcerosos duodenais.

Portanto: A grande maioria dos ulcerosos duodenais são portadores de Helicobacter pylori.

Pode-se dizer, face aos dados acima que:
O Helicobacter pylori e a hipercloridria estão presentes na úlcera duodenal ativa.

COMENTÁRIOS E PERGUNTAS

O "Helicobacter pylori" não vive no meio ácido, meio esse que destrói bactérias. Permanece sobre as células do estômago, coberto por uma nuvem de amônia e pH alcalino. Se o "Helicobacter pylori" é erradicado, a acidez, digo, a hiperacidez gástrica cai, voltando à normalidade. Se a infecção pelo "Helicobacter pylori" persiste, poderá ocorrer, a longo prazo, HIPOCLORIDRIA, atrofia da mucosa gástrica e metaplasia celular, condições que convergem para a eclosão do câncer gástrico.

Primeira Pergunta

Se o Helicobacter pylori tem por seu "habitat" o meio alcalino, e produz amônia através da urease, alcalinizando o meio, por que haveria hiperacidez na úlcera duodenal, que, em grande maioria é "Helicobacter pylori" positiva?

Resposta

Não conhecemos a palavra final, mas demonstraram-se alguns dados:

No ulceroso duodenal, "Helicobacter pylori" positivo, ocorre hipergastrinemia. A gastrina, hormônio produzido pelas células G estimula as células parietais a produzirem mais ácido: compreende-se a hipercloridria!

A gastrina é equilibrada antagonicamente pela Somatostatina, equilíbrio que se rompe na infecção pelo "Helicobacter pylori", pois, a Somatostatina não se eleva, deixando livre a ação acidificante da gastrina.

SEQUÊNCIA ALTAMENTE POSSÍVEL NA
GÊNESE DA ÚLCERA DUODENAL

Segunda Pergunta

A hiperacidez encontrada na úlcera duodenal é induzida pelo "Helicobacter pylori"?

Resposta

Certamente sim. Sempre admitimos a hipótese (Laudanna, A. A., 1990) de ser a hiperacidez induzida sim pelo "Helicobacter pylori", representando, de fato, uma reação do hospedeiro, no caso o homem, contra a bactéria que está presente em seu estômago, na tentativa de destruí-la, como faz contra as demais bactérias. Este conceito não está demonstrado.
Acontece porém, que o "Helicobacter pylori" dispõe de meios bioquímicos, inclusive através da urease (que leva à produção de amônia) de defender-se da hipercloridria que seria reacional (Laudanna 1990) por parte do hospedeiro, e permanece o "Helicobacter pylori" sobre as células do estômago, obtendo, para si, o meio alcalino que lhe é necessário.

BASES DE TRATAMENTO DE ÚLCERA DUODENAL PÉPTICA, ATIVA

  • Sempre será necessário bloquear a acidez, sendo as drogas de eleição os bloqueadores de bomba protônica, podendo-se também usar os bloqueadores H2.
  • Serão sempre associados, pelo menos dois antibacterianos adequadamente escolhidos (especialmente da Claritromicina e da Amoxilina). Voltaremos muitas vezes ao tema.
 

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