FUGESP
Revista de Gastroenterologia da Fugesp - NOÇÕES BÁSICAS DO METABOLISMO DAS BILIRRUBINAS
Maio/Jun-2000

ENDOSCOPIA EM AÇÃO

Dr. José Guilherme Nogueira da Silva

COLONOSCOPIA NOS PACIENTES COM DIARRÉIA CRÔNICA

O número de pacientes com sintomas gastrointestinais que requerem investigação do intestino grosso vem crescendo. A colonoscopia tem sido cada vez mais indicada nestes pacientes, principalmente naqueles com história de diarréia crônica nos quais não se consegue chegar a uma elucidação diagnóstica com outros métodos. Além de se mostrar mais sensível na detecção destas patologias, ela permitiria a realização de biópsias para estudo anatomopatológico e confirmação diagnóstica (01).

Nestes pacientes este exame é de grande ajuda, tanto para o diagnóstico das doenças inflamatórias intestinais (DII), quanto para o diagnóstico diferencial com as colites linfocíticas, colagenosa, actínica, isquêmica e as colites infecciosas: tuberculose, amebíase, histoplasmose, colite pseudomembranosa e infecções associadas à síndrome de imunodeficiência adquirida, por possibilitar a visualização da mucosa e por permitir a coleta de material para estudo histopatológico. A colonoscopia é mais sensível do que o enema na determinação da extensão anatômica do processo inflamatório. Uma vez estabelecido o diagnóstico da DII é possível estabelecer, em grande parte dos casos, o diagnóstico diferencial entre a retocolite ulcerativa inespecífica (RCUI) e a doença de Crohn (DC). Como são patologias de evolução crônica, a colonoscopia será útil para o acompanhamento destes pacientes. Tanto a RCUI quanto a DC apresentam aspectos endoscópicos bastante característicos (Tabela 1).

Tabela 1 - Diagnóstico diferencial - RCUI x Doença de Crohn

ASPECTO
RCUI
DOENÇA DE CROHN
Distribuição
universal/contínuo
segmentar/salteado
Comprometimento do reto
comum
raro
Comprometimento ileal
raro - backwash ileitis
27 a 44% dos casos
Friabilidade, eritema, granulação
comum
raro
Úlceras rasas
< 1,0 cm
> 1,0 cm
Úlceras aftóides e lineares
ausentes
comuns
Aspecto calcetado
ausente
comum
Pseudopólipos
comuns
comuns
Pontes de mucosa
ocasional
ocasional


No entanto grande parte destes exames mostra uma mucosa colônica normal. Nestes casos, a possibilidade de obtenção de biópsias da mucosa colônica durante este procedimento levaria a um aumento na taxa de elucidação diagnóstica (01, 02, 03).

É amplamente reconhecido que a DC pode apresentar-se com aspecto macroscópico da mucosa colônica normal. Nas Colites Colagenosa e Linfocítica a colonoscopia é normal na maioria dos pacientes, raramente mostrando alterações macroscópicas inespecíficas (04, 05). O diagnóstico deve ser suspeitado na existência de diarréia crônica, e estes pacientes apresentarão alterações características ao estudo anatomopatológico da mucosa colônica. Na Colite Colagenosa será observado espessamento da faixa subepitelial de colágeno. Já na Colite Linfocítica observa-se um aumento difuso dos linfócitos intraepiteliais, associado a lesão do epitélio superficial, aumento de linfócitos nas criptas, distorção das criptas, aumento do infiltrado inflamatório crônico na lâmina própria (01, 02). Outros achados histológicos poderiam ser somados para justificar a realização de biópsias, como: espiroquetose intestinal, melanosis coli, colite por citomegalovírus (01).

Resultados preliminares de nossas pesquisas (Silva, JGN) e estudo que vem sendo desenvolvido na Disciplina de Gastroenterologia Clínica da Faculdade de Medicina da USP confirmam a importância do estudo histológico da mucosa colônica nestes pacientes. Até o momento foram estudados 118 pacientes com diarréia crônica e aspecto colonoscópico normal. O exame histológico contribuiu para o diagnóstico final em 13 (11%) pacientes. Destes, 06 (5,1%) com colite colagenosa, 03 (2,5%) com doença de Crohn, 01 (0,9%) com esquistossomose, 02 (1,7%) com colite linfocítica, 01 (0,9%) com doença isquêmica do cólon (Tabela 2). Com base nestes dados, podemos concluir que patologias importantes podem não ser diagnosticadas sem a realização de biópsias da mucosa colônica aparentemente normal, justificando sua realização nestes casos.

Tabela 2 - Análise histológica da mucosa colônica em pacientes com diarréia crônica

 
N
%
Total de colonscopia
118
100
Diagnóstico histológico
13
11

- Colite colagenosa

6
5,1

- Doença de Crohn

3
2,5

- Colite Linfocítica

2
1,7

- Esquistossomose

1
0,9

- Colite isquêmica

1
0,9

As diarréias crônicas podem ter múltiplas etiologias. A colonoscopia, como se demonstrou acima, tem papel importante nos procedimentos que levam ao diagnóstico.

 

www.fugesp.org.br
FUGESP - Fundação Médico-Cultural de Gastroenterologia e Nutrição de São Paulo
Rua Itacolomi, 601 - 4º andar - Conjunto 46 - Higienópolis - Cep: 01239-020 - São Paulo - SP
© Copyright 2005, FUGESP