Faz agora 100 anos.

Soube desse fato quando visitei, parece-me que na década de 80, a senhora Alice que era cliente do Professor Antonio Barros de Ulhôa Cintra. Substituí o Prof. Cintra em visita clínica rotineira, por encontrar-se o mesmo em viajem para o exterior. A senhora Alice nada apresentava de especial, tendo boa saúde. A sua cordialidade marcou-me fortemente. Por todo o ambiente viam-se quadros, bustos e relíquias do Dr. Arnaldo.
Eu não sabia por que. Perguntei: A senhora é parente do Dr. Arnaldo?

Sou filha dele, respondeu-me. Tratava-se da senhora Alice de Mesquita, viúva de Júlio de Mesquita. Contou-me que, ao tempo de jovem, na família de seu pai, residiam na Av. Ipiranga, em casa de amplo quintal, quase uma chácara. Seu pai após um jantar com a família, disse que ia se recolher mais cedo, pois que se sentia indisposto, com dor de garganta.

Era o início da doença fatal: infecção da garganta (amídalas e faringe), causada pelo estreptococo, germe que continua em atividade em muitas dores de garganta, atualmente facilmente curadas por antibióticos, especialmente pela penicilina. O diagnóstico foi feito com precisão pelos doutores Alexandrino Pedroso e Samuel Smile, sendo o estreptococo bem identificado. Instalou-se septicemia que consiste em infecção generalizada através da circulação. Nas culturas desse sangue cresce o estreptococo. Chegou a ser operado pelo Dr. Cândido de Camargo, com a intenção de retirar o foco. Esses dados, confirmadores do que me relatou a senhora Alice de Mesquita encontram-se relatados na biografia de Arnaldo Vieira de Carvalho, em dois volumes, de autoria de Antonio da Palma Guimarães. O Dr. Arnaldo tinha apenas 53 anos quando faleceu, provavelmente em idade correspondente à fotografia que ilustra este arquivo, presente na biografia referida.

O Dr. Arnaldo foi um gigante pra o ensino médico em São Paulo. Estruturou rigorosamente o ensino, trazendo, inclusive, professores do exterior, a exemplo de Alfonso Bovero, entre outros. Soube-se valer das melhores cabeças dos médicos brasileiros, que posteriormente seguiram e engrandeceram a escola médica de São Paulo. Oscar Freire, por exemplo, foi convidado de Arnaldo.

O Prof. Flamínio Fávero de quem tive a honra de ser aluno e até amigo, disse-me certa vez que a personalidade de Dr. Arnaldo e seu valor eram tais que bastava dizer Dr. Arnaldo, como se desígna, até hoje a avenida que lhe leva o nome: Avenida Dr. Arnaldo. Bastava dizer Dr. Arnaldo e havia só um.

Quanto se deve a Alexander Fleming, o descobridor da penicilina! Chegou a penicilina no Brasil em 1945, no fim da segunda guerra mundial.

A penicilina de Fleming teria salvo o Dr. Arnaldo.